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HÉROIS PELA DIVERSIDADE

ARTIGO DE OPINIÃO

 

Super-heróis dos quadrinhos na luta pela diversidade

por Clarice Frauches Siqueira

 

      O conhecido e tradicional super-herói branco e heterossexual está com os dias contados. Ou, pelo menos, está perdendo espaço. Refletindo a realidade do mundo atual, no qual a inclusão e a igualdade social estão cada vez mais em discussão, editoras de quadrinhos estão investindo progressivamente em personagens e histórias que refletem a diversidade. Para entender a enorme importância que estas mudanças carregam, é necessário primeiro entender um pouco mais sobre como os super-heróis estão sendo reconstruídos nas páginas dos mais influentes gibis do mundo.

Detalhe da revista Thor, agora em versão feminina

Foto: Clarice Frauches            

      Em julho desde ano, a Marvel Comics revelou todos os seus lançamentos para o outono nos Estados Unidos. Os novos quadrinhos apresentavam apostas ousadas para o mercado, com mulheres e pessoas de etnias variadas protagonizando alguns de seus principais títulos. Essa reformulação prometida pela editora agora já é realidade nas bancas. Entre as maiores e mais significativas mudanças estão Thor, Hawkeye e Wolverine, que agora são mulheres; e Capitão América e Homem-Aranha, que são negros em sua nova versão. Além disso, a Ms. Marvel, uma das principais super-heroínas da editora, passou a ser uma jovem muçulmana-americana.

 

      Das 45 novas capas reveladas, 15 apresentam diretamente protagonistas mulheres ou pessoas não-brancas. Os números podem parecer pequenos, mas basta olhar para a história da mídia para perceber como são significativas essas mudanças. Dos mais de 35 quadrinhos lançados pela Marvel em 1990, apenas um apresentava uma protagonista mulher, e só uma série de quatro quadrinhos do Pantera Negra apresentava um personagem principal negro.

           

      É claro que não são todos os leitores que apoiam estas mudanças. Os comentários das redes sociais são o maior exemplo de discordância entre os fãs de quadrinhos. Muitos mostram-se completamente contra as reinvenções. De qualquer forma, a grande maioria parece ter gostado da diversificação. Para se ter uma ideia, segundo uma pesquisa realizada pela Fusion, os primeiros cinco números de Thor na versão feminina superaram em quase 20 mil unidades as vendas dos primeiros cinco números da mesma revista quando a personagem era homem. Um aumento de cerca de 35% nas vendas do título.

 

           

      Não é apenas a Marvel que está investindo em um futuro mais diverso para seus heróis. A principal rival da editora, a DC Comics, está tentando se tornar líder em representação LGBT no mundo dos quadrinhos. Em 2012, o personagem Lanterna Verde já tinha sido notícia no mundo todo ao se declarar homossexual em seu gibi. Recentemente, a DC introduziu o primeiro super-herói gay a estrelar um título solo, o Midnighter. Vários heróis, vilões e membros de apoio LGBT também terão destaque em uma série de outros títulos. Além disso, os escritores garantem que os personagens já assumidos como bissexuais serão mantidos, como a Mulher-Gato e Constantine.

           

      A razão por trás de tantas mudanças nos quadrinhos não é simples. As diversificações dos novos personagens não surgiram a partir de iniciativas altruístas das editoras. Elas vieram, especialmente, após meia década de vendas estagnadas. O fato é que a grande maioria dos principais títulos dos super-heróis que hoje vendem nas bancas ao redor do mundo foram criados há 50, 60 e até 70 anos atrás. O que fazia sucesso naquela época, já não consegue suprir o desejo desta nova do público desta década. O leitor quer ver, de certa forma, o mundo em que vive refletido nas páginas dos gibis. E, atualmente, é a diversidade e a luta contra o preconceito que estão em alta.

      Independentemente da motivação por trás das mudanças, a nova reformulação dos quadrinhos representa um grande marco para o futuro dos super-heróis. E não só dentro do gênero literário, mas também no universo cinematográfico. Nesta última década, adaptações de revistas em quadrinhos para o cinema têm se tornado comuns em Hollywood. Filmes como Os Vingadores e Guardiões da Galáxia superaram expectativas e bateram diversos recordes de bilheteria ao redor do mundo. E o investimento não está apenas na tela grande, mas também na televisão. Seriados baseados em gibis estão em alta. Demolidor, por exemplo, série exibida pela Netflix e elogiada pela crítica, foi um sucesso de público no serviço de streaming.

Capa da revista do personagem bissexual Constantine

Foto: Clarice Frauches            

Imagem da nova versão do super-herói Capitão América

Foto: Clarice Frauches            

           

      Estamos, sem dúvida, vivendo a era de ouro para os heróis dos quadrinhos. É exatamente por isso que essa reformulação dos personagens dos gibis é tão importante. A representatividade destes grupos, agora em destaque nas páginas da Marvel e da DC, é um passo importante rumo à igualdade social na ficção. Além disso, estas mudanças podem impulsionar e influenciar outras formas de mídia para também abraçarem a diversidade em suas produções. É, o futuro parece promissor. Resta esperar para ver, se dessa vez, os super-heróis conseguirão cumprir essa nova missão.

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